Políticas Culturais são Políticas Inclusivas?
 

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Políticas Culturais são Políticas Inclusivas?

3 / Maio / 2024

O Programa de Pós-graduação em Ciências da Linguagem, os cursos de graduação em Cinema e Audiovisual e Psicologia e o Ânima Plurais promoveram na noite desta segunda (29) a Roda de Conversas “Políticas Culturais são Políticas Inclusivas?”. Evento, que ocorreu no “Auditório C” do campus da Pedra Branca pôs em cena o cineasta Thomas Dadam, o ator Arthur Gomes, a professora de literatura Ibriela Sevilha e o estudante de mestrado Fábio Neuhaus.

Conforme explica Nádia Neckel, questões de gênero nas artes e na cultura sempre circularam como interesses centrais das pesquisas e da formação de mestres e doutores do PPGCL. Prestes a completar 25 anos, o Programa concentra seu olhar para os “processos textuais, discursivos e culturais” em duas linhas de pesquisa, “Texto e Discurso” e “Linguagem e Cultura”. Integrando a segunda linha, o ÉPOCA, “Grupo de Pesquisa Estética e Política na Contemporaneidade” do qual ela, e as professoras Ramayana Sousa e Ana Carolina Cernicchiaro fazem, se destaca. “Justamente em função disso, não poderíamos passar indiferentes em nossa práxis docente aos acontecimentos de interdição e censura recentes pelas quais passam inúmeras produções artísticas em nosso estado”, destaca.

Citando Stuart Hall, para quem “as sociedades da modernidade tardia tem como o característica principal as diferenças”, Nádia pondera que as artes são lugares de diferença e trazem as marcas das fraturas sociais do seu tempo. “É por isso que o discurso neoconservador se sente tão ameaçado frente às expressões artísticas contemporâneas que visibilizam a pluralidade de gênero, de classe e de racialidade”, argumenta. “Nossas pesquisas assumem esse compromisso ético, estético e político de pensar o escuro de nosso tempo, como enfatiza Agamben, ou, como diz Butler, ‘É crucial que a política de gênero se oponha ao neoliberalismo e a outras formas de devastação capitalista e não se torne seu instrumento’”, complementa.

É nesse contexto de pensares e sentires que Karine Zepon coordenadora da Ânima Plurais Unisul, Marcos Antunes coordenador curso de Psicologia e Ânima Plurais Pedra Branca e Mara Salla coordenadora do curso de cinema e audiovisual uniram interesses e compromissos comuns em prol da diversidade, surgindo desta interlocução a proposição de uma Roda da Conversa para uma reflexão, política, poética e plural sobre as políticas públicas de cultura e a censura.

A professora Mara Salla (mestre e doutora pelo PPGCL) apresentou de uma forma povoada de afetos o cineasta Thomas Dadam (egresso do curso de Cinema da Unisul) e o ator Arthur Gomes que dá vida à Drag Suzaninha. Ambos são idealizadores do 1º festival de Cinema e diversidade de Santa Catarina, mostra itinerante que sofreu censura na cidade de Rio do Sul no início do mês.

Ana Carolina Cernicchiaro apresentou Ibriela Sevilha, professora de literatura na rede pública de Chapecó e autora do “Manifesto em defesa da literatura, das artes, da cultura e da ciência”, lido e apoiado durante a roda de conversa. Ibriela sofreu processo disciplinar após leitura de poemas integrantes do livro “Não Alimente uma escritora”, de Telma Sherer.

Nadia Neckel, por sua vez, apresentou Fábio Neuhaus, mestrando do PPGCL e bacharel em direito, que tem buscado em sua dissertação compreender a não coincidência entre Direito e Justiça na disputa narrativa daquilo que nomeamos “liberdade de expressão”.

A conversa girou em torno da compreensão de que as políticas públicas são dotadas de historicidade e se dão no campo das disputas narrativas. Em síntese, as contribuições convergiram no sentido de destacar que a arte sempre metaforizou o seu tempo histórico. Ela potencializa os sentidos das margens das lutas de questões de classe e de raça. Parafraseando o livro “O avesso da Pele” de Jeferson Tenório (que também sofreu tentativa de censura), pensar é o que nos resta! Pensar, debater e encontrar formas de agir frente a truculência de discursos autoritários, sem escuta, sem potência e sem arte.

A constatação dos presentes foi que, para os Estados cuja forma de governo é o autoritarismo, o “criar”, o “ler” e o “escrever”, a até mesmo o “amar”, pode ser visto como perigoso. Por isso, muitas vezes, o livro precisa ser censurado, queimado, jogado fora. É nesse sentido que uma reflexão comprometida com a política, com as poéticas e com a pluralidade se faz potência, luta e resistência!